sexta-feira, 17 de abril de 2009

O lado arrogante (e ignorante) da Europa




Certa vez, há menos de um ano, eu estava na festa de uma amiga que, por sua vez, prestava homenagem a outra pessoa de nacionalidade portuguesa e que iria retornar ao seu país, após um período de férias no Brasil.

Sou comprometido, mas minha namorada não estava na festa. Eu estava junto aos meus amigos e não conhecia a tal figura portuguesa, que a princípio me parecia simpática.

Lembro-me que conversei com todos e comecei a "trocar uma idéia" (como se diz aqui no Brasil) com a portuguesinha, mas não tinha segundas intenções com a moça, afinal de contas, gosto de minha namorada e sou fiel. A minha vontade era falar sobre Portugal e, sobretudo, sobre a cultura portuguesa e européia.

A princípio, senti certa simplicidade e boa vontade da moça, mas no decorrer da conversa, a coisa mudou do azeite de oliva para o Vinho do Porto. Comecei a perceber certa animosidade para com o Brasil e para com a cultura brasileira, até que num determinado momento o comentário deferido foi que os europeus acham do Brasil um país de “macacos que só sabem rebolar a bunda e que não gostam de trabalhar”. O pior é que ela disse isso sem o menor motivo, pois a conversa decorria numa forma pacata e simpática, pelo menos de minha parte. Percebi que o tom dela era jocoso e que ela se incluía nessa parte de europeus que têm essa visão preconceituosa. Logo depois disso, ela ficou envergonhada e não teve mais coragem de conversar comigo, pois havia percebido a grande gafe que cometera, já que em nenhum momento eu falara mal de Portugal, da Europa e das pessoas de lá.

Eu logo pensei que a moça era esquizofrênica ou teve algum erro de interpretação a respeito de meu interesse por Portugal, talvez achando que o meu interesse fosse por ela. Eu, ao contrário dela, havia mostrado profundo interesse pelo velho mundo e pelo povo, sem a mínima intenção de menosprezar fosse o que fosse ou quem fosse, mas apenas queria ouvir falar daquilo e daqueles que não tivera contato direto.

Concluo que a moça realmente interpretou mal o meu interesse e que, no fundo, o preconceito europeu é a prova cabal de que a ignorância prevalece mesmo naqueles países cuja cultura é levada a sério. O Brasil é um país de terceiro mundo, mas industrialmente é um lugar de destaque e pelo tamanho de seu território e de sua população, sem dúvida é o país de maior relevância na língua portuguesa. Afinal de contas, Portugal tem o tamanho de uma cidade do Brasil.


Se algum português ou descendente ler esse post, saiba que não tenho nada contra Portugal ou seu povo, mas apenas espero que a forma de pensar da maioria não seja similar a dessa moça ignorante e completamente mal educada, pois sei que muita gente na Europa não tem essa visão preconceituosa e mesquinha.

Concluo dizendo que se o Brasil é um país com vários problemas, é também por culpa de muitos povos europeus, sobretudo dos portugueses, que durante séculos saquearam nosso ouro e escravizaram parte de nosso povo, deixando sequelas difíceis de serem resolvidas. Sem contar que os outros europeus que conheço (principalmente de outros países de origem latina) consideram Portugal como o “fundo do quintal” da Europa e para bom entendedor isso basta.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Sobre a civilização


Para se pensar:

"Será razoável supormos que toda a civilização elevada desenvolve tensões implosivas e movimentos de autodestruição? ....Será a fenomenologia do tédio e do anseio pela dissolução violenta uma constante na história das formas sociais e intelectuais a partir do momento em que ultrapassam um certo limiar de complexidade?"

George Steiner - No castelo do barba azul, 1971